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Diagnóstico e Verdade - Parte I

  • Foto do escritor: Horácio Amici
    Horácio Amici
  • 30 de mar. de 2019
  • 2 min de leitura

Os diagnósticos usados contemporaneamente são decorrentes de dois grandes manuais: a CID-10 (Classificação Estatística Internacional de Doenças) e o DSM-V (Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais). Esses manuais são, na verdade, uma grande lista de psicopatologias. Cada “capítulo” trata de um diagnóstico diferente, com uma descrição geral e também uma lista de sintomas que caracterizam cada condição clínica.

Pensando assim, tudo parece fazer muito sentido. Acontece que esses fenômenos psicopatológicos são muito mais complexos que uma lista de sintomas (por mais bem-feita e atualizada que essa lista seja).

A retirada recente de alguns diagnósticos - e a mudança constante dos diagnósticos que ficam - mostram que pensar em psicopatologia implica também em pensar nos contextos sociais. Claro que os “sintomas” existem, mas classificá-los como patológicos ou não patológicos é, no fundo, sempre uma questão de valores, uma questão de escolha política.

O que acontece, muitas vezes, é que tendemos a enxergar o diagnóstico como uma verdade em si - tendemos, por vezes, a ver mais verdade nos diagnósticos do que nos próprios sujeitos. Olhando de perto, toda pessoa escapa, transborda o diagnóstico que lhe tenta dar contorno.

A verdade dos sujeitos é muito mais sutil: há algo de inclassificável naquilo que nos caracteriza enquanto pessoas, algo que descrições generalizadas não têm possibilidade de dar conta.

O espaço da terapia talvez seja um espaço de abertura para tudo isso que há em nós e que está para além de uma lógica estritamente científica e calculada. E é isso o que faz com que os encontros, na clínica, sejam tão bonitos: não há, assim, dois encontros que possam se assemelhar.

Na clínica, nada se repete, porque é nela que se abre a possibilidade para que o sujeito se diga verdadeiramente através de si mesmo: para além de tudo aquilo que, fora do enquadre protegido pelas paredes do consultório, poderia mais uma vez aprisioná-lo.



 
 
 

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