Limite, frustração e subjetividade
- Horácio Amici
- 21 de abr. de 2019
- 2 min de leitura
A frustração e os limites são barreiras ou parte do próprio processo de construção subjetiva? Freud traz dois conceitos que ajudam nessa discussão: o princípio do prazer e o princípio da realidade.
O princípio do prazer é definido como a busca instintiva por satisfação, evitando-se, assim, situações de dor e sofrimento. É a força motriz que guia os indivíduos: somos, portanto, sujeitos desejantes.
Freud é também atento em observar que, ao sujeito se inserir na vida social, ele passa a ser regido também por um segundo princípio: o princípio da realidade. Esse sujeito vai percebendo que, para poder estar com o outro, se faz necessário adiar a satisfação imediata de seu desejo. É, portanto, parte do processo de amadurecimento subjetivo.
No senso comum, porém, tendemos a acreditar que qualquer frustração deve ser evitada, principalmente nas relações de afeto socialmente mais relevantes: relações familiares, escolares, amorosas.
Queremos o melhor dos nossos filhos e filhas, por exemplo, e acreditamos que a melhor forma de educá-los pauta-se em satisfazer sempre seus desejos e evitar que o mundo os frustrem. O que Freud aponta é que uma vida verdadeiramente desejante só pode existir quando esse próprio desejo é anteriormente barrado.
Em um mundo em que meu desejo impera, é como se eu não aprendesse a lidar com qualquer situação que escape do que prevejo: a falta de frustração que poderia ter sido introduzida num ambiente protegido (como o ambiente familiar, idealmente), paradoxalmente, acaba gerando muito mais frustração em todos os outros contextos nos quais nos lançamos conforme vamos crescendo.
É a falta de frustração e do limite que parece gerar sujeitos incapazes de lidar com seu desejo que muitas vezes não vai ser satisfeito: sem nunca ter aprendido a ter seu desejo barrado, o mundo torna-se um lugar hostil e imprevisível.
Só nos tornamos verdadeiramente desejantes justamente a partir do limite do nosso desejo: sem ele, nos perdemos indiscriminadamente frente a tudo aquilo que intensamente somos, mas que também não damos conta de ser.

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