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Uma relação íntima com o tempo

  • Foto do escritor: Horácio Amici
    Horácio Amici
  • 14 de jun. de 2020
  • 2 min de leitura

As relações de subjetividade são relações estabelecidas e sustentadas em um tempo social e compartilhado, porém experimentadas em um tempo muito próprio ao sujeito (uma temporalidade muito idiossincrática). A forma como cada sujeito se vê e se experimenta é muito atravessada por relações que, em última instância, são relações temporais.


Em uma sociedade em que não temos mais tempo - em que o imperativo é sempre empreender e incorporar-se a uma lógica de produção, em que meus momentos mais íntimos e mais meus estão a serviço do outro e de ninguém - será que ainda temos a nós mesmos? A alienação última parece ser um afastamento em sentido de tempo: estou longe de mim quando não adentro e vivo um ritmo que é o meu.


As questões psicopatológicas que mais se fazem discursar nos nossos dias poderiam ser lidas, em algum sentido, nesses termos: depressão (o não suportar o peso tempo?), ansiedade (estar sempre em um tempo que ainda não é?), questões de aprendizagem e do desenvolvimento (descompasso entre tempo do sujeito e um tempo dito social?)


Apropriarmo-nos de nós mesmos, nessa linha, parece ser ganhar intimidade com uma temporalidade muito nossa. Entender e acolher os nossos percursos e trajetos subjetivos, guiados por um ritmo (um compasso) que revela, em última instância, a nossa história e constituição enquanto sujeitos.


A forma como cada um se vê no tempo parece revelar a maneira como cada um foi se estruturando e se estrutura frente a tudo que vem do outro e do mundo. O nosso tempo parece ser a nossa história mais sagrada.


A clínica, enquanto dispositivo, parece ter como um dos seus mais importantes sentidos o de abrir um espaço em que o sujeito possa se reconciliar com esse tempo tão historicizado e pessoal. Dar margem para que a gente não só reconheça, mas também possa de fato permitir-se viver essa relação tão intimista que é a relação com o (nosso) tempo.

 
 
 

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